Livro Bananas Podres do grande poeta Ferreira Gullar
NAIRA SALES
Sobre Ferreira Gullar, ninguém menos que Vinicius de Moraes escreveu, em 1976, que se tratava do "último grande poeta brasileiro". E com mais de 60 anos de carreira ele lançou este ano o livro Bananas Podres, uma reunião de seus poemas acompanhados por uma série de pinturas e colagens inéditas de própria autoria. O tema das bananas em decomposição frequenta os versos de Ferreira Gullar desde os anos 1970. Embora já houvesse surgido antes a ideia de reunir os poemas sobre bananas podres num livro ilustrado, só recentemente Ferreira foi levado a inventar este pequeno álbum.
"É verdade que, faz alguns anos, escrevi mais alguns poemas sobre o tema, mas o fator decisivo foi ter percebido que as folhas de jornal, que uso para limpar o pincel, lembravam, com suas manchas escuras, a cor das bananas quando começam a apodrecer. De inicio, apenas as recortei e colei, sem associá-las aos poemas. Como a lembrança de bananas apodrecendo na quitanda de meu pai me volta de vez em quando à memória, terminei por juntar as colagens e os poemas, como um modo de responder a esse apelo do passado. Foi como viver aquela época, com muita satisfação e alegria", diz o poeta.
O tema bananas podres também está presente no último livro de Ferreira Gullar, intitulado "Em alguma parte alguma", recentemente premiado como o melhor do ano na categoria pelo Jabuti. Nestes poemas da nova edição, a infância em São Luís, a família, a passagem do tempo, a desordem e a tentativa de reter sensações estão presentes nos poemas que refletem o melhor da poesia de Gullar e suas próprias interpretações visuais sobre sua vida e expressão.
Ferreira diz que todos os meu livros são diferentes. "Costumo dizer que minha poesia nasce no espanto. Precisa de alguma coisa que me surpreenda – que eu não tenha descoberto ainda na vida, com minha experiência de vida.", confessa Gullar, defensor da prática da simplicidade na escrita do poema
Ferreira Gullar (José Ribamar Ferreira) é poeta, crítico de arte, tradutor e ensaísta. Publicou seu primeiro livro de poesia, Um pouco acima do chão, aos 19 anos. Dois anos depois, se mudou para o Rio de Janeiro, cidade em que mora até hoje. Colaborou em jornais e revistas e foi um dos criadores do movimento Neoconcreto, lançado no fim da década de 1950.
Nos anos 1960 dedicou-se também à dramaturgia. Entre 1971 e 1977, durante a ditadura militar, viveu no exílio. Nessa temporada fora do país, escreveu o Poema sujo, considerado um dos pontos mais altos da literatura brasileira. Também publicou outros títulos importantes de poesia, como A luta corporal, Dentro da noite veloz, Barulhos e Muitas vozes.
Entre seus ensaios mais conhecidos estão Vanguarda e subdesenvolvimento e Argumentação contra a morte da arte. Recebeu em 2010 o prêmio Camões pelo conjunto de sua obra. Em 2011, com Zoologia bizarra (Casa da Palavra) foi laureado com o selo Altamente Recomendável FNLIJ e foi vencedor do prêmio ABL, na categoria infantojuvenil, e, com o livro Em alguma parte alguma (José Olympio), na categoria poesia, venceu o 53º prêmio Jabuti.
Bananas Podres
De Ferreira Gullar
64 páginas
R$ 55,00